Mundo do Trabalho, Música e Cultura no Capitalismo Tardio

Os estudos nessa temática se situam na confluência dos campos da sociologia do trabalho e da economia da cultura. De forma geral buscam analisar e discutir as formas como a cultura – e o trabalho daqueles que atuam nesse setor – vem sendo apropriada por mecanismos de exploração próprios à atual fase do modo de produção capitalista. Como objeto específico dos estudos estão músicos do estado do Rio de Janeiro, cuja prática de atuação profissional serve como indício para a compreensão da realidade em que vivem e trabalham. Estão inclusos os saberes das práticas profissionais, a forma como aprendem e o que produzem.

Projetos relacionados

O mercado formalizado de trabalho musical no Rio de Janeiro dos anos 1970: mapeamento de músicos, repertórios e equipamentos culturais a partir dos Contratos de Locação de Serviço do Fundo Documental do Sindicato dos Músicos do Estado do Rio de Janeiro (2023-atual)

COORDENAÇÃO: Luciana Requião

A pesquisa é parte de um amplo projeto de estudos que tem como objetivo geral analisar as relações sociais de produção da música popular no Rio de Janeiro, com o intuito de compreender a realidade em que músicos vivem e trabalham. Em etapa anterior realizamos um estudo exploratório junto ao Fundo Documental do Sindicato dos Músicos do Estado do Rio de Janeiro, instituição fundada como Centro Musical do Rio de Janeiro em 1907, por meio do qual organizamos uma grande quantidade de documentos produzidos ao longo do século XX. Dentre esses documentos estão os Contratos de Locação de Serviço, documento criado pela Portaria Ministerial n° 398 de 11 de setembro de 1968 para a formalização do trabalho, na maioria celebrado entre os detentores ou representantes de equipamentos culturais como clubes, casas de shows e teatros, e os músicos. Em particular, foi encontrada encadernada e preservada a documentação produzida em toda a década de 1970, referente a diversos tipos de contrato de trabalho. Os contratos revelam quem eram os contratantes e os contratados, a sua função (se instrumentista ou cantor/a), o local onde se daria a apresentação musical, remuneração, período de trabalho etc. Nosso objetivo específico é realizar um mapeamento de músicos, repertórios e equipamentos culturais a partir dos Contratos de Locação de Serviço do Fundo Documental do Sindicato dos Músicos do Estado do Rio de Janeiro. Tal estudo será mais um passo na direção de uma compreensão ampla e profunda da forma como as relações de trabalho no campo da música foram se estruturando e se transformando no decorrer do século XX, e suas implicações para o trabalho no século XXI.

A formalização do trabalho no campo da música (do século XX ao século XXI): um estudo exploratório no acervo documental do Sindicato dos Músicos do Estado do Rio de Janeiro (2019-2023)

COORDENAÇÃO: Luciana Requião COLABORAÇÃO: Hudson Lima, Isaac Santana Andrade, Anne Meyer, Rafael de Oliveira, Pedro Aune e Antonilde Rosa.

Partimos de estudos realizados nos últimos 15 anos que tiveram como objeto de pesquisa o trabalho de músicos que atuam no estado do Rio de Janeiro, e como objetivo a compreensão e análise da realidade em que vivem e trabalham. O panorama encontrado nos levou a conhecer condições precárias de trabalho onde imperam a informalidade e a intermitência, expressas em frágeis relações entre contratante e contratado. Presenciamos o processo conhecido como “pejotização” e atestamos que, conforme vem ocorrendo nos demais setores produtivos, o empreendedorismo é apontado como resposta ao desemprego. A partir de 2019, em um projeto conjunto com estudantes de pós-graduação do PPGM da UNIRIO, encontramos no acervo do Sindicato dos Músicos do Estado do Rio de Janeiro documentos que compreendem um período de mais de um século e que expressam a formalização nas relações de trabalho do músico, o que provavelmente teve seu ápice em meados do século XX e um declínio paulatino a partir daí, até a situação encontrada nos dias de hoje. São atas do Centro Musical do Rio de Janeiro (CMRJ), instituição criada em quatro de maio de 1907 – que se tornaria posteriormente o atual sindicato -, contratos de trabalho de diversos tipos (individuais e coletivos), notas contratuais (modelo vigente a partir do ano 1978), documentos pessoais de músicos trabalhadores (como carteiras de trabalho), fichas de registro de empregados da emissora radiofônica Mayrink Veiga (que esteve ativa entre 1926 e 1965 no Rio de Janeiro), fichas de matrícula de músicos do CMRJ e propostas de admissão ao sindicato, inicialmente chamado de Sindicato dos Músicos Profissionais do Rio de Janeiro, dentre outros. Nosso objetivo por meio deste estudo é, em um projeto longitudinal de caráter quantitativo e qualitativo, compreender, analisar e relatar a história da formalização do trabalho no campo da música no estado do Rio de Janeiro, e sua decadência. Temos como perspectiva teórico-metodológica o materialismo histórico, o que nos impulsiona à busca pelas determinações, mediações e contradições de ordem econômica, política e cultural que compõem a totalidade social estudada. Com isso, buscamos contribuir com os estudos sobre o trabalho no Brasil e com a história da música brasileira.

Mundo do Trabalho, Música e Cultura no Capitalismo Tardio: um estudo com músicos do Estado do Rio de Janeiro (2015-Atual)

COORDENAÇÃO: Luciana Requião COLABORAÇÃO: Breno Ampáro e Rodrigo Heringer.

O projeto vem dar continuidade às pesquisas que vimos desenvolvendo nos últimos anos e que se situam na confluência dos campos da sociologia do trabalho e da economia da cultura. Como objeto específico de pesquisa, desenvolvemos um estudo junto a músicos profissionais vinculados ao Sindicato dos Músicos do Estado do Rio de Janeiro (SindMusi) com o intuito de compreender a realidade em que vivem e trabalham. Através deste estudo buscamos subsídios para a compreensão da realidade do trabalho do músico – em geral informal e precarizado – frente aos números apresentados pelas estatísticas oficiais que apontam para “dados promissores” do setor para a economia brasileira. Nesse contexto, o trabalho do músico é percebido como produtivo ao capital. Neste estudo buscamos ainda evidenciar a conformação do trabalho do músico, em particular do músico instrumentista, às relações de produção capitalista contemporânea que tem como uma de suas características o fomento ao empreendedorismo. Observamos que a figura do músico como um trabalhador autônomo vem sendo substituída pela figura do Micro Empreendedor Individual, conforme o modelo aplicado pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas – SEBRAE. Destacamos que a viabilidade em se “viver” de música está associada à capacidade deste profissional em empreender. Ao lado desse fenômeno vem ocorrendo um processo de “pejotização” do músico trabalhador, o que implica em perdas de direitos trabalhistas.

Os rumos da cultura: formação humana ou desenvolvimento econômico? (2010-2011)

COORDENAÇÃO: Luciana Requião

O projeto envolve atividades de pesquisa cuja temática se situa na confluência das áreas de trabalho-educação, cultura, políticas educacionais e economia da cultura, e dá continuidade à pesquisa de pós-doutorado realizada na Faculdade de Educação da Universidade Federal Fluminense, através de bolsa Pós-Doutorado Júnior concedida pelo CNPq, entre novembro de 2008 e agosto de 2009, intitulada “A cultura como mercadoria: a cultura a serviço do desenvolvimento econômico e da valorização do capital”. Como resultado daquela pesquisa pudemos observar a produção cultural como um setor imerso nos processos gerais da produção capitalista, cujas determinações históricas vão moldando e adequando seus processos às necessidades capitalistas de produção e geração de lucro. Partindo desse quadro nos pareceu relevante aprofundar o debate crítico sobre esse setor emergente denominado economia da cultura, que amparado por jargões que pregam a democratização do acesso à cultura e o apoio à diversidade cultural tem como objetivo principal abastecer o mercado de produtos e serviços ditos como culturais em busca da valorização do capital. Como objetivo geral do presente projeto nos interessa aprofundar a análise e a compreensão das formas como as manifestações culturais vêm sendo tratadas no âmbito das políticas públicas brasileiras e das formas como o segundo setor, tal qual vem se evidenciando também no campo da educação e da saúde, vêm se apropriando dessas formas culturais a fim de valorizar seu capital.

A CULTURA COMO MERCADORIA – Manifestações culturais a serviço da valorização do capital (2008-2009)

COORDENAÇÃO: Luciana Requião SUPERVISÃO: José dos Santos Rodrigues

Este plano de trabalho envolveu atividades de pesquisa cuja temática se situa na confluência das áreas de trabalho-educação, cultura, sociologia do trabalho e economia política da cultura. O projeto parte da análise realizada e dos resultados obtidos no desenvolvimento da tese “Eis aí a Lapa…: processos e relações de trabalho do músico nas casas de shows da Lapa”. Entre outras questões, a tese promoveu um debate acerca de um setor da economia que vem se mostrando em acelerado desenvolvimento, a chamada Economia da Cultura ou Indústria Criativa. Constatou-se que, transformado em mercadoria, o produto cultural vem se desenvolvendo de acordo com as mudanças no modo de produção e se moldando aos hábitos de consumo. Nesse sentido, não cabe entender a produção cultural e artística como uma forma de produção autônoma, mas compreender que o que vem alimentando e, muitas vezes, possibilitando a produção artística e cultural é a indústria, movida por sua necessidade de acúmulo de capital. Partindo desse quadro nos pareceu relevante aprofundar o debate crítico sobre esse setor emergente, que amparado por jargões que pregam a democratização do acesso à cultura e o apoio à diversidade cultural tem como objetivo principal abastecer o mercado de produtos e serviços ditos como culturais em busca da valorização do capital. De outra forma, mas no mesmo sentido, observou-se a cultura como parte das estratégias de marketing das empresas como uma forma de agregar valor à sua marca. Como objetivo geral do presente projeto nos interessou aprofundar a análise e a compreensão das formas como as manifestações culturais vêm sendo tratadas no âmbito das políticas públicas brasileiras e como vêm sendo apropriadas pelo capital.

Eis aí a Lapa… : Processos e relações de trabalho do músico nas casas de shows da Lapa (tese de doutorado – 2008 – UFF)

ORIENTAÇÃO: José dos Santos Rodrigues

A pesquisa se constitui em um estudo que procura articular os processos gerais da produção capitalista ao trabalho específico do músico no capitalismo tardio. Tendo como objetivo geral analisar, discutir e compreender os atuais processos e relações de trabalho deste setor, em específico o trabalho do músico em apresentações ao vivo, procurou-se demonstrar que os processos de produção da música não são processos autônomos e que para compreendê-los se faz necessária uma análise do contexto sócio, político, econômico e cultural onde estão inseridos, ou seja, da totalidade social. As relações e os processos de trabalho do músico nas casas de shows da Lapa foi o foco central da observação empírica, onde se pôde observar as principais características e contradições das relações de trabalho que vêm se estabelecendo no capitalismo tardio. Foi possível constatar que em todas as suas formas, sendo elas legalizadas ou não, a exploração da força de trabalho do músico se perpetua amparada por um regime econômico que permite ao capitalista adequar tais relações de trabalho da forma que lhe assegure e amplie a sua margem de lucro – objetivo final de qualquer empreendimento capitalista. Como resultado desse estudo, se pôde evidenciar a produção musical como um setor imerso nos processos gerais da produção capitalista, cujas determinações históricas vão moldando e adequando seus processos e suas relações de trabalho às necessidades capitalistas de produção e geração de lucro.

Saberes e competências no âmbito das escolas de música alternativas: a atividade docente do músico-professor na formação profissional do músico (dissertação de mestrado – 2002 – UNIRIO)

ORIENTAÇÃO: Regina Márcia Simão Santos

A dissertação visa compreender os saberes e as competências desenvolvidas na atividade docente do músico-professor no âmbito das escolas de música alternativas, considerando a formação profissional do músico. Através da perspectiva da escola de música e do músico-professor, e da análise de publicações com fins de ensino musical, identificamos que os saberes desenvolvidos por esse profissional em sua atividade docente visa atender a uma demanda por profissionalização prioritariamente voltados a música popular. Relacionados ao mundo do trabalho, esses saberes são fruto da experiência do músico-professor em sua atividade artístico-musical, caracterizando-se por uma particularidade quanto ao como se ensina, a o que se ensina e a quem ensina. As escolas de música alternativas foram identificadas como uma instância de formação profissional que vem suprir uma demanda face à atual noção de competência profissional. Na formação profissional do músico a tensão detectada entre saberes técnico-profissionais requeridos no mercado de trabalho e saberes que respondam à dimensão social e política constitui um foco para pesquisas subsequentes.

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